O mês de Agosto já está a meio, e
eu ainda não tinha uma linha escrita sobre ele.
“Como é possível?”, perguntam os
caros leitores. É da preguiça, respondo eu. É que este mês tem um fuso horário
próprio, quer se esteja a trabalhar ou não. As pessoas na rua incutem isso, se
não reparam na quantidade de gente de almoça fora todos os dias, que faz anos
todos os dias (e por isso há mais bolos e caixas de bolos, cheias de “Feliz
Aniversário” e de guloseimas), há mais camiões a circular, carregados de
músicos para animar bailes. Há mais de tudo – mais looks extravagantes, mais
morenos, mais morenas e mais calções, usados por pessoas que andam a passo de
caracol, ou, pelo menos, a um ritmo anormal ao que estou habituada.
Ora, as horas andam todas
trocadas. Não sei por que relógio me guiar, porque parece fora de sintonia. É
comum das 9h às 17h não haver nada aberto, e lojas abertas fora de tempo. Nas
prateleiras dos supermercados, que lá estão nos mesmos horários, nada há, tal é
a velocidade a que são esvaziadas, que não há teias de aranha que se acumulem,
como se houvesse a todo o momento aquelas promoções que baixam em 50% o preço
de tudo ou como que fosse época de saldos (alto lá, que é mesmo!). Há carros a
buzinar à quarta-feira, em filas de casórios a caminho de quintas de luxo. Ao
dia de semana, de verdade!
Este ano não falo ressabiada do
Agosto, do querido Agosto, num momento Dino Meira, porque tenho férias
marcadas. Preparem-se, que daqui a uns dias vou ver eu a pilhar as prateleiras
desses supermercados por aí fora, neste nordeste transmontano. E vou levar todo
o pão, todo o queijo, todo o fiambre do mais barato e todas as Pála-Pála. E vou
levar até limas, açúcar amarelo… espera lá! Onde raio está o açúcar amarelo?
Querem lá ver que já não cheguei a tempo? Ó diabo.
Bom, enfim, adiante.
De férias, vou ter paciência para
esperar em filas, para procurar alternativas para os produtos do costume que
evaporaram, para me levantar cedo quando me deitar tarde, para andar devagar e
para dar indicações na rua. Porque, de férias, entrarei no tal fuso horário
agostiano, cheio de particularidades. Vou, até, conseguir ouvir a panóplia de
músicas que me chega neste momento através da janela do trabalho. Algumas que
nunca ouvi, outras que estou farta de ouvir e outras ainda que faria tudo para
que nunca as tivesse ouvido.
Agosto é estranho, Agosto é
lindo. É Agosto. É como um clube de futebol que teima em perder – apresenta
maus resultados, de um modo geral, mas não conseguimos passar sem ele.
Publicado originalmente in Jornal Terra Quente edição 568
Coluna Más Línguas, boas conversas
Foto: Calendário 2014 Bombeiros de Setúbal