Muitas pessoas perguntam-se
(quero acreditar que sim) por que é que não escrevo sobre a actualidade.
É um facto. Prefiro debruçar-me
sobre outros assuntos, a maioria deles (todos?) sem nenhum aplicativo concreto.
Gosto tanto da actualidade, que até sou contra o acordo ortográfico!
Basta ser um observador mais ou
menos atento do chamado mundo actual para perceber o meu desinteresse em falar
sobre ele.
Além de toda a gente já os
comentar, (isto de ser seguidora de algo mainstream,
que não tenha a ver com a bola, não é para mim) são temas de má rês, com índole
duvidosa.
Jornalistas decapitados,
inocentes mortos em guerras, vírus perigosos, crimes hediondos, serviços
encerrados e, ainda os fogos, porque o Verão não terminou, e até dizem que o
pior está para vir.
As minhas últimas palavras – o
pior está para vir – são a chave deste desabafo. A actualidade é má. E quando
há alguma coisa boa, quer-se efémera, com pouco destaque. É para ser um sorriso
solitário neste vale de lágrimas.
Foto retirada de http://www.sol.pt/noticia/105703 |
Repare-se que nem as famosas
pulseiras feitas com elásticos coloridos, e que para muitos miúdos constituíram
a primeira fonte de rendimento (sim, para os mais distraídos, as crianças
impingiam os ditos “acessórios” a familiares e amigos) se safaram. E uma coisa
que nem era boa nem má, mas que abanou a actualidade, afinal, vai a ver-se, e
pode provocar cancro. Puxou-se demasiado o elástico, e rebentou… Acontece.
Para mim nem havia actualidade.
Bania-se.
Assim todos teríamos que ser mais
criativos e arranjar outros assuntos aos quais dar visibilidade. Até poderia
dar-se o caso de começarmos a falar mais com o vizinho, com as pessoas com quem
nos encontramos nas filas de espera ou ficássemos a dar dois dedos de conversa
quando fôssemos comprar pão.
A actualidade é má. Não gosto de
falar sobre ela. Só de pensar, fico arrepiada.
E, eu acho (vale o que vale, bem
sei), que quando ninguém quiser saber da actualidade, quando mais ninguém
quiser os holofotes mundiais a fazer-me rolar suor cara abaixo, e quando cada
um passar a olhar para o seu quinhão, para aquilo que lhe está à frente dos
olhos, vamos deixar de ser aqueles que, sentados à mesa do jantar ou de um
café, dizem “que pouca vergonha!”, mas que depois seguem, indiferentes, e vamos
começar a ser reaccionários.
Uma fórmula que poderá adoçar a
actualidade e quebrar-lhe o encanto, para que deixe de ser má, e passe, pelo
menos, a ser assim-assim.