sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Já que estou a pedir...

Estou farta, fartinha, de pessoas que pedem coisas. Sim, leram bem.

É que é toda a gente a pedir algo. Há uns que se fazem de modestos, e dizem “Ai, eu só já pedia saúde, para mim e para os meus”. Ora, “só”? Só? Falem com os senhores que estão internados numa unidade hospitalar na altura do Natal nos Hospitais, e aí verão como é bom ter saúde. E depois, nem se resumem a pedir para si mesmos. Não, é tudo à Lagardèr, para a família toda (e sabe-se lá, por Deus, de que número estamos a falar). Entram juntamente aí os amigos chegados, mais os animais de estimação. Outros pedem o Euromilhões, só que nem jogam – porque bom mesmo era o prémio sair sem gastar um centavo nem mexer um chavelho para isso. Saía e pronto. Já que estamos a pedir…

Mas a saga continua. Na charcutaria de um hipermercado qualquer, há sempre uma pessoa (às vezes eu mesma, confesso) que depois de pedir inclusive o salame de bicho-do-mato, que nem sabíamos que existia, diz, após aquela plaquinha electrónica passar ao número seguinte: “olhe, já agora, eram mais umas graminhas ali daquele (e aponta, que nem sabe o nome, mas quer, se calhar porque viu na hora e pareceu apetitoso. Nunca – repito – nunca vão às compras com fome). Já que estava a pedir…”. Há quem só peça favores, mas nunca os retribua – como aqueles vizinhos que pedem ovos ou açúcar, e, já que estamos, para lhes mudarmos uma lâmpada. Porém, quando precisamos, nunca estão em casa, nem têm os tais ovos, que lhes fazem mal ao colesterol. Ou o amigo que nos pede por favor 10 euros, e que por especial favor nunca lhos cobramos de volta.

Estamos a caminhar a passos largos para o Natal. Começa a cheirar a rabanadas e a músicas de cariz sentimental. Com esta maravilhosa época – que eu adoro – vem o quê, perguntar-se-ão. A derradeira época da pedinchice! É a menina que pede as coisas todas das Monster High (que são a Barbie na versão Halloween) à mãe (aos gritos na loja, como manda a tradição), é o senhor Alberto que pede para que os netinhos não sejam gandulos, a Miss que pede paz mundial, são os lojistas do comércio tradicional a pedir clientes, os jovens licenciados e os professores a pedirem emprego, o Rodolfo a pedir férias logo a seguir à consoada, que ainda aproveita parte das festas. E eu peço para deixarem de pedir.

Fazemos assim: deixamos de pedir para passamos a dar. Eu sou um exemplo vivo disso. A minha mãe repete há 24 anos que só lhe dou trabalho. Vêem? Dou, absolutamente altruísta, alguma coisa. 

Podemos dar sangue, dar à luz, dar ideias, dar currículos, dar amor, dar sorrisos, dar coisas de que não precisamos, dar luta, dar que falar, dar no duro, dar nas vistas, dar… Bom, ficamos por aqui. Perceberam a ideia.

Dar é muito melhor do que pedir. Dar é uma frase afirmativa, pedir é uma frase interrogativa. Dar é assertivo, pedir é dubiedade. Dar é ter garra, pedir é ser arranhado.

Se tiverem que pedir (é que temos MESMO às vezes) certifiquem-se que têm algo para dar em troca. Uma moeda rara, com boa cunhagem, de colecção, para ninguém ficar a perder.

É só isto que vos peço.