“Não, não, não!”
Mil vezes “não”, gritado,
estripado, malfadado, mas, sobretudo, sem sentido.
Às vezes, é preciso reconhecer
que perdemos, que “não dá mais” (tantas supostas citações apenas em quatro
linhas de texto, ãh?). Ou, mais simples ainda, usar de algum bom senso e
amor-próprio, e virar costas.
É que, solenemente, se há coisa
que mescla a irritação extrema com a pena desmesurada é a falta de sentido de
oportunidade. E se há coisas que todos deveríamos não quer causar em alguém
são, justamente, irritação e pena.
Vou contar-vos uma estória, uma
que poderia ter acontecido a qualquer um de nós, ou que talvez nunca tenha
acontecido, somente porque ninguém admitiria que passou por algo assim.
Bom, então, nesta estória há uma
rapariga minimamente interessante. Vira as suas atenções para um rapaz. Ela,
oportunista de sentimentos, de olho grande à procura de uma vítima que lhe
massaje o ego, tenta mandar nele, mudá-lo. Acha, até, a pobre coitada, que ele
daria a volta ao mundo descalço por ela. Ele, esperto, começa a perceber que,
se calhar aquele “interessante” com que a catalogou no início é fraquinho, é
daquelas pessoas que, no final das contas, nos obriga a gargalhar forçadamente,
porque não tem tanta graça assim. Ele tem sentido de oportunidade, e vai
embora.
Ela, atarantada com as sucessivas
negas, continua a insistir, agindo ainda exactamente com o mesmo jeito, as
mesmas palavras, que antes até eram estimulantes, mas que agora são um
anticlímax para a vida em geral. Tivesse ela sentido de oportunidade,
poupar-se-ia a tanta coisa.
Nos filmes é sempre assim, nas
comédias românticas. Há sempre um bibelô que não percebe que está a mais. Não
sei se há assim tanta gente que nunca viu comédias românticas, para que não
atinja que está a fazer figura de urso.
O amor, o entrosamento, a química
– não vale a pena pedinchar, insistir, rastejar. Não vai nascer ao décimo
convite para jantar, ou à milésima insinuação.
Às vezes, simplesmente, tudo se
dissipa, e seguem-se caminhos separados.
“Não era mais fácil dizer
directamente?”, podem perguntar. Se calhar, era. Mas, se verbalizássemos tudo,
estaríamos a desperdiçar uma série de faculdades que é necessário treinar.