terça-feira, 13 de setembro de 2016

Oportunistas, não, com sentido de oportunidade, sempre

“Não, não, não!”
Mil vezes “não”, gritado, estripado, malfadado, mas, sobretudo, sem sentido.
Às vezes, é preciso reconhecer que perdemos, que “não dá mais” (tantas supostas citações apenas em quatro linhas de texto, ãh?). Ou, mais simples ainda, usar de algum bom senso e amor-próprio, e virar costas.
É que, solenemente, se há coisa que mescla a irritação extrema com a pena desmesurada é a falta de sentido de oportunidade. E se há coisas que todos deveríamos não quer causar em alguém são, justamente, irritação e pena.
Vou contar-vos uma estória, uma que poderia ter acontecido a qualquer um de nós, ou que talvez nunca tenha acontecido, somente porque ninguém admitiria que passou por algo assim.
Bom, então, nesta estória há uma rapariga minimamente interessante. Vira as suas atenções para um rapaz. Ela, oportunista de sentimentos, de olho grande à procura de uma vítima que lhe massaje o ego, tenta mandar nele, mudá-lo. Acha, até, a pobre coitada, que ele daria a volta ao mundo descalço por ela. Ele, esperto, começa a perceber que, se calhar aquele “interessante” com que a catalogou no início é fraquinho, é daquelas pessoas que, no final das contas, nos obriga a gargalhar forçadamente, porque não tem tanta graça assim. Ele tem sentido de oportunidade, e vai embora.
Ela, atarantada com as sucessivas negas, continua a insistir, agindo ainda exactamente com o mesmo jeito, as mesmas palavras, que antes até eram estimulantes, mas que agora são um anticlímax para a vida em geral. Tivesse ela sentido de oportunidade, poupar-se-ia a tanta coisa.
Nos filmes é sempre assim, nas comédias românticas. Há sempre um bibelô que não percebe que está a mais. Não sei se há assim tanta gente que nunca viu comédias românticas, para que não atinja que está a fazer figura de urso.
O amor, o entrosamento, a química – não vale a pena pedinchar, insistir, rastejar. Não vai nascer ao décimo convite para jantar, ou à milésima insinuação.
Às vezes, simplesmente, tudo se dissipa, e seguem-se caminhos separados.

“Não era mais fácil dizer directamente?”, podem perguntar. Se calhar, era. Mas, se verbalizássemos tudo, estaríamos a desperdiçar uma série de faculdades que é necessário treinar.