domingo, 27 de outubro de 2013

Com a verdade me enganas

Há notícias estranhas a circular na imprensa. Muito estranhas mesmo. Li então que, na China, uma jovem recém-casada fez sexo com o padrinho do enlace, por, imagine-se, engano. Aparentemente, no regresso de uma ia à casa-de-banho a noiva desorientou-se, e acabou por se enfiar na cama não com o respectivo esposo, mas com o padrinho, que a começou a acariciar, induzindo o acto sexual.

Sou só eu que vejo inúmeras coisas invulgares aqui? E todas elas óbvias. Há aquele ditado maldoso que diz que “ quem gosta de coisas pequenas é mulher de chinês”; e há quem afirme que a famosa frase “os homens tão todos iguais” foi pronunciada originalmente por uma chinesa. Mesmo assim, “alguma” coisa tinha que ser diferente. Seria a primeira vez deles? Pensaria a noiva que as bolhinhas do champanhe (na China também há champanhe nos casamentos?) tinham tido efeitos sobre o seu marido, deixando-o diferente? E em que raio de hotel, pergunto eu, um/a desconhecido/a (note-se que podia ser um homem a enfiar-se cama adentro, e não uma mulher) nos entra na cama, e nós, em vez de gritar e perguntar “alto! Quem está aí? É plo mal?”, não, fazemos sexo com ele/a? Por momentos cruzou-me o pensamento a imagem do padrinho, muito contente, “boa! Serviram o pequeno-almoço mais cedo. E na cama.”.

Isto só me faz pensar o quão ardiloso e conturbado é o acto sexual. Deveria haver um código para regulamentar a coisa. Se há para a estrada, para a publicidade, para tudo enfim, por que não para o sexo? Era muito mais simples. Assim para além das convenções das traições (que restringem, obviamente, o número de parceiros sexuais numa relação à séria), as pessoas antes de iniciar a sua vida sexual teriam matéria para estudar. Teoria da boa, e não só pornografia e revistas (nada contra isso, antes pelo contrário. Ámen).

Isto leva a outra ilação simples. As pessoas deveriam ser sujeitas a um exame, que lhes daria um título, que as habilitaria para ter sexo. Deste modo os the day after, em que pensámos “onde é que eu tinha a cabeça?” deixariam de existir, porque o parceiro estava devidamente autorizado a ter sexo, com selo de qualidade (agora me lembro que tenho carta de condução, e conduzo mal, mesmo assim. Bom, vou reformular e afirmar antes que o número de fracassos sexuais seria muito mais reduzido).

Logicamente teria que haver uma entidade que regulamentasse a actividade. Uma espécie de Inspecção-Geral das Actividades Sexuais, ou Direcção Nacional Do Sexo. Isto é absolutamente brilhante. Pensem comigo, era uma forma de gerar empregos. Teria que haver pessoas formadas na área para ocupar os cargos necessários, e para leccionar a teoria. E, quiçá, a prática (que já o há, mas não é lícito).

E depois, claro, teria que haver regras rígidas e apertadas (escolhi mal os adjectivos talvez). Algo como: se ela estiver a atingir o orgasmo, tem prioridade, e deve-se ceder a passagem. Ou, por exemplo, estabelecer locais onde não possamos estar parados, para não interromper a circulação. E devia ser proibido fazer comparações entre os parceiros que não são passíveis de prova. Era tudo muito mais simples. Mesmo na fase do pick up.Um diálogo descomplicado ajudaria a resolver muita coisa: “Então, tens licença sexual?”. “Sim, fui aprovado a semana passada”. “Ó diabo!” – Ouvir-se-ia em resposta. “Mas já me tinham ensinado umas dicas antes do exame”, poderia retorquir o outro. E, mediante isto, cada um escolheria.

No caso da noiva chinesa, ela ainda tentou pedir uma indemnização, acusando o padrinho de abuso. Não teve sucesso no seu intento, mas lembra-me que era importante estabelecer multas, delimitar infracções e penalizações. Por exemplo, três queixas num ano por má prestação, poderia dar inibição de ter sexo de um mês a um ano. Se fossem seis, a sanção iria de dois meses a dois anos. E mais do que seis… bem… o melhor seria pendurar as botas. E se alguém acusasse alguém de lhe ter proporcionado o pior acto sexual da sua vida, poderia pedir uma indemnização pelo tempo que o fez perder e pelos constrangedores momentos. E mentir ao parceiro? “Querida, hoje apetece-te?”. “Ai, sim, muito”. E depois fica a contar as moscas que passam. Multa nisso!

E poderia continuar este tema, alegremente. Daria pano para mangas. Ficam dicas importantes. Certamente haveria menos margem para erros e pessoas mais felizes. Passaria a ser difícil mentir sobre a performance sexual e acabavam-se as gabarolices (e voltando à minha carta de condução, relembro que chumbei no primeiro exame prático. Bolas… Diz muito sobre mim!).

“Vou dar-te a melhor queca da tua vida.”. “Estás a falar a sério?”. “Claro.”. E saca da licença sexual, onde passou com distinção. “Nunca ninguém teve uma lasca de unha sequer para me apontar. Nem uma multa, nem uma sanção em dez anos que levo disto”. Discursos assim fariam mais sentido do que: “Terás que provar para saber se gostas ou não. Quase de certeza que eu vou gostar”. E depois nenhum dos dois gosta, mas fizeram sexo, é um facto, e rematam com o ditado popular “com a verdade me enganas”. Aposto que foi isto que se passou debaixo dos lençóis chineses. E tudo que não é passível de prova, fica no "ver para crer". Faz sentido.