Estão a ver aqueles filmes em que
as pessoas são substituídas por robots ou então sofrem “afinações”? Em que são
mais perfeitas e fazem tudo bem, além de terem montes de utilidades práticas,
que os humanos normalinhos não possuem? É só para vos avisar que isto está a
acontecer.
Ocorrem-me Os Substitutos, a
Ilha, Mulheres Perfeitas, e há um de que eu gosto muito, que é com o puto do
Sexto Sentido, mas que agora não me está a vir o nome.
Pois bem, lamento deixar este
triste aviso à navegação – esqueçam as pessoas com defeitos. Isso é old school.
As pessoas deixaram de ter
defeitos muito por culpa da Conversão. A Conversão é uma máquina invisível que
vive na cabeça dos seres humanos deste século, onde entram pela retina pessoas
banais e cravam-se no cérebro super-heróis. Convertem-se os defeitos em
virtudes que nos tornam em “únicos, insubstituíveis e fabulosos”, entre outros
adjectivos nesta linha. Não os costumo usar, por isso, perdoem-me a falta de
minúcia.
Então não é que agora não há
teimosos? Nem chatos? Nem feios? Não se é teimoso, é-se “perseverante”. Não se
é chato, é-se “insistente”. Não se é feio, é-se “peculiar”. Podem dizer que são
prismas diferentes de ver coisas que permanecem iguais, mas, para mim, que
continuo presa no passado, isto são tudo é palavras com significados
diferentes, podendo ser, no máximo, eufemismos.
Já não há pessoas sem carácter.
São “simplistas” agora. Gente má rês foi à dita máquina, apertaram-se uns
parafusos, e pronto.
“Ah, mas toda a gente tem um lado
B.” Acredito piamente, mas também não acho que suprir defeitos a torto e a
direito seja ser politicamente correcto. Estou em crer que em muitos dos casos
estamos só a ser condescendentes. Soubesse a Humanidade que a solução, afinal,
está na forma como se diz…
Quem se lixa nesta história, são,
como sempre, os bonzinhos. De que vale ter montes de qualidades, ter atitude,
ter acção, num mundo onde tudo é passível de ALSF (para quem não teve
adolescência, isto significa Amor Louco Sem Fim, e escrevia-se nas portas das
casas-de-banho da escola, associado a um nome, que mudava de mês a mês) quase
de forma instantânea? Mesmo uma noz seca, com um pouco de pó de arroz,
transforma-se numa diva.
Hoje li uma frase, em português
do Brasil, que dizia assim: “Você tem o direito de ser esquisito”. E talvez eu
seja só uma gaja esquisitinha, daquelas mete-nojo, que implica com tudo.
Espera lá… “gaja” e “esquisita” são
palavras feias… Não, vou ser antes uma “jovem” com uma “mente invulgar”.
Não sou de modas, mas, podendo
ser um hídrico, e fazer uma operação plástica aos pordentros, não sou menos do
que ninguém!
Publicado originalmente em Notícias do Nordeste