terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Já nem sei se é assédio, se é só burrice


Então, há mesmo (de verdade!) gente que acha que meter conversa nas redes sociais, numa de fishing, é fixe? Que “não tem nada de mal”? Que “é algo banal”?
Há?
Obviamente, daqui para a frente vão ler uma versão feminina do universo da internet. Deduzo que tudo do que vos vou falar agora aconteça aos homens, mas não tenho opinião sobre isso.
Há fenómenos estranhos, e crescentes, que honestamente eu não entendo. Segundo tenho visto, há já mulheres a escreverem nas redes sociais, estilo aquelas mensagens que colamos na caixa do correio que dizem “publicidade aqui não”, no caso sobre o facto de o sexo oposto ter que aprender a manter-se num nível… normal (até porque a estratégia de marketing e comunicação destes tipos é nula), e parar de as assediar. Assediar não é de homem. E o maior problema é que o simples facto de se existir parecer ser o mote ideal para este tipo de assédio electrónico.
Sejamos realistas – não é por escreverem o que quer que seja que quem é idiota vai deixar de o ser. Ninguém vai ler a vossa publicação e pensar “caramba, olha que parvo que eu sou, a pensar que as miúdas gostam é de ser abordadas à bruta, mesmo sem me conhecerem!”. Não, não vai acontecer. No máximo, vão enviar-vos uma mensagem a dizer que concordam, palavra por palavra, com aquilo que vocês disseram, e depois convidam-vos para tomar um café.
Isto é transversal: uma ligação numa rede social, um motivo para tentar iniciar conversas tão sem nexo como “Oi linda”, “Olá, tudo bem?”, “Não és a não-sei-quantas que faz não-sei-o-quê?”. Não tenho esperança que colocar isto por escrito mude o que quer que seja, mas, a sério (tom exasperado) conseguem perceber o quão ridículo isto é? Estão a imaginar a cara da miúda do outro lado? Ela vai comprimir os lábios, semicerrar os olhos (sim, uma cara de reprovação e tédio), e vão fazer o que estas mensagens merecem. Vão ler e nunca vão responder (mesmo que venham 20 mil vezes com a mesma ladainha. Vamos reforçar a imagem mental disto). Estão a ter um vislumbre agora? É ridículo, e humilhante, até, uma janelinha de conversação com um monólogo.
“Devemos ser mais criativos?”, perguntam agora os homens. Cruzes! Não! Um homem que é idiota ao ponto de achar que o torna macho e sexy invadir a privacidade de uma mulher assim, porque ela nem se vai importar (é o que passa na mente de um idiota), é idiota ao ponto de ter ideias mais idiotas ainda. E então passam para um patamar supremo. Uma vez (e isto é verdade) enviaram-me uma fotografia de um pénis. Sem nenhum “olá”, nem “oi” costumeiro. Lá que foi diferente, foi. Não. Obviamente não ficámos amigos.
Também adoro o “gosto muito do teu trabalho” (penso eu que a referirem-se às minhas crónicas. Por isso hoje vou perder leitores). Só que depois nem o conhecem, e lá no fundo devem achar que escrevo para atrair um bando de tarados da brigada do “oi”, quando em boa verdade a única coisa que faço é usar do meu cérebro, ao contrário deles, que se limitam a navegar na internet, e escrever “oi” em chats, indiscriminadamente.
A terminar este texto, convido os homens a fazerem um exercício rápido. Fechem os olhos, e imaginem as situações descritas. É esta a vossa ideia do que é ser um homem? Abordar mulheres que não conhecem de lado nenhum com o intuito de tentarem a sorte com elas?
Se vocês, homens, chegaram até aqui na leitura, responderam “sim” às questões aqui em cima e continuam a achar-se os maiores e super-engatatões, desculpem, realmente no vosso caso não é assédio, de facto. É burrice. E, lembrem-se: não estão a ser melhores do que aqueles a quem apontam o dedo sobre esta matéria.

Publicado originalmente em: Notícias do Nordeste



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