sábado, 1 de outubro de 2016

(Ainda) quero mudar o Mundo

Daqui a (menos de) uma semana, completarei 27 anos, e acredito que posso mudar o Mundo.
Pela primeira vez, em mais de 3 anos como colunista, escrevo sem ironia, sem sarcasmo, sem pitada de graçola velada.
Tenho (quase) 27, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo.
Desde que me lembro, desde que consigo assimilar adágios populares, que ouço que “perguntar não ofende”.
Ah, que grande mentira! Perguntar ofende, perguntar é incómodo. Perguntar, sim, só o que é correcto e convém. Poderia dizer que foi isso, o querer quebrar o tabu, que me levou a ser jornalista, mas estaria a mentir. Caí no jornalismo sem querer, e, como nos melhores romances, acabei por me apaixonar perdida e irremediavelmente.
A verdade, sem que esta seja absoluta (nunca o é) e sem precisar de grandes perguntas de antemão, é que a sociedade está podre. Ou, sendo menos exagerada, até porque tenho (quase) 27 anos, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo, é que algo na sociedade está bafiento.
Os mesmos que batiam no peito, que comentavam no café e diziam ser “Charlie” são os mesmos que não têm grandes problemas na hora de pedir favores que calam. Os mesmos que não acham cartoons ofensivos, acabrunham-se com perguntas, ou com as respostas que não querem dar. Não disparam armas, mas não têm problemas com mordaças mais ou menos reais, quando se trata de servir o bem-comum, que, em boa verdade, serve é meia dúzia de pessoas. Pergunto-me o que aconteceria se estas pessoas fossem visadas pela ponta inofensiva de um lápis. Um lápis e uma folha, iguais aos usados numa mesa de escola, e com a liberdade de que goza uma criança (talvez já nem elas a gozem). Iriam respeitar a dita liberdade de expressão, ou mover céus e terra, para que os demais não pudessem ver através dos olhos de outros? Bom, adivinhem… Não é difícil. E, ressalve-se que ver com os olhos de outros não é necessariamente mudar ideologias e posturas. É antes dar o livre arbítrio de pensarmos pelas nossas cabeças, um direito que nos é roubado tão descaradamente, que passamos a achar que é normal não o termos.
Quanto mais escavamos na sociedade, quantas mais perguntas (sem respostas) fazemos, mais percebemos que algo está mal, e que toda a gente parece acomoda com isso, com a linha recta que nos traçam na frente no nariz. Ver com os olhos de outros não é permitido, até porque o ideal é que não se veja nada. No escuro, tudo parece imaculado.
“Há duas forças de unem os Homens: medo e interesse”, disse Napoleão Bonaparte. Continua actual, assustadoramente actual.
Por favor, não façam com que eu deixe de acreditar na rectidão, na verdade, na liberdade em que nasci, na qual e com a qual fui criada. Não façam com que precise de ter medo de querer fazer perguntas, e de querer pensar, sempre, pela minha própria cabeça.
Imploro-vos. É que, sabem, eu tenho (quase) 27 anos, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo.



Publicado originalmente em: http://www.noticiasdonordeste.pt/2016/10/ainda-quero-mudar-o-mundo.html

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