Daqui a (menos de) uma semana,
completarei 27 anos, e acredito que posso mudar o Mundo.
Pela primeira vez, em mais de 3
anos como colunista, escrevo sem ironia, sem sarcasmo, sem pitada de graçola
velada.
Tenho (quase) 27, e (ainda)
acredito que posso mudar o Mundo.
Desde que me lembro, desde que
consigo assimilar adágios populares, que ouço que “perguntar não ofende”.
Ah, que grande mentira! Perguntar
ofende, perguntar é incómodo. Perguntar, sim, só o que é correcto e convém.
Poderia dizer que foi isso, o querer quebrar o tabu, que me levou a ser jornalista,
mas estaria a mentir. Caí no jornalismo sem querer, e, como nos melhores
romances, acabei por me apaixonar perdida e irremediavelmente.
A verdade, sem que esta seja
absoluta (nunca o é) e sem precisar de grandes perguntas de antemão, é que a
sociedade está podre. Ou, sendo menos exagerada, até porque tenho (quase) 27
anos, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo, é que algo na sociedade está
bafiento.
Os mesmos que batiam no peito,
que comentavam no café e diziam ser “Charlie” são os mesmos que não têm grandes
problemas na hora de pedir favores que calam. Os mesmos que não acham cartoons ofensivos, acabrunham-se com
perguntas, ou com as respostas que não querem dar. Não disparam armas, mas não
têm problemas com mordaças mais ou menos reais, quando se trata de servir o
bem-comum, que, em boa verdade, serve é meia dúzia de pessoas. Pergunto-me o
que aconteceria se estas pessoas fossem visadas pela ponta inofensiva de um
lápis. Um lápis e uma folha, iguais aos usados numa mesa de escola, e com a
liberdade de que goza uma criança (talvez já nem elas a gozem). Iriam respeitar
a dita liberdade de expressão, ou mover céus e terra, para que os demais não
pudessem ver através dos olhos de outros? Bom, adivinhem… Não é difícil. E,
ressalve-se que ver com os olhos de outros não é necessariamente mudar
ideologias e posturas. É antes dar o livre arbítrio de pensarmos pelas nossas
cabeças, um direito que nos é roubado tão descaradamente, que passamos a achar
que é normal não o termos.
Quanto mais escavamos na
sociedade, quantas mais perguntas (sem respostas) fazemos, mais percebemos que
algo está mal, e que toda a gente parece acomoda com isso, com a linha recta
que nos traçam na frente no nariz. Ver com os olhos de outros não é permitido,
até porque o ideal é que não se veja nada. No escuro, tudo parece imaculado.
“Há duas forças de unem os
Homens: medo e interesse”, disse Napoleão Bonaparte. Continua actual,
assustadoramente actual.
Por favor, não façam com que eu
deixe de acreditar na rectidão, na verdade, na liberdade em que nasci, na qual
e com a qual fui criada. Não façam com que precise de ter medo de querer fazer
perguntas, e de querer pensar, sempre, pela minha própria cabeça.
Imploro-vos. É que, sabem, eu
tenho (quase) 27 anos, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo.
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