sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ciúme, eu? Não! Mas que sejam muito felizes, juntinhos


Tenho uma velha máxima, tão velha quanto a minha maturidade permite, e que versa assim: quando se tem ciúme, está na hora de virar costas, e fechar a tasca.
Ora, porque digo eu que quando sentimos ciúme de alguém – ciúme, aquela picada no coração, qual efeito montanha-russa, e que provoca instintos assassinos; não aquele sentimento descabido de possessão – é sinal que estamos apanhadinhos. E estar apanhadinho nunca é bom. Até porque, em boa verdade, já ninguém quer andar por aí apanhadinho. Não é da moda, nem há tempo para gostar assim.
Por isso, podemos ir estando com uma pessoa, e mentir a nós mesmos, aos amigos, e, por favor, ao objecto da nossa paixão, a quem vamos, copiosamente, negar qualquer tipo de sentimento que ultrapasse o mero físico.
Temos saudades de estar juntos? Pois temos. Mas, não dizemos. Ficamos nervosos e ansiosos antes dos encontros marcados? Claramente, só que, em boa verdade, quem precisa de saber? Andamos bem-humorados e radiantes? Vê-se à légua, e a culpa…é do tempo, que está a melhorar.
Vamos fingir que gostamos de conchinhas, mimos e olhares melosos. Fingir, sim, porque é como que se não gostássemos. Ninguém do grupo dos “maus”, dos durões, dos “só sexo” gosta dessas coisas amorosas, e somente estúpidas.
Falamos da jeitosa da vizinha do andar de baixo, com quem nos cruzámos uma ocasião à entrada do prédio. Falamos do ex-namorado que teima em dar notícias e lembrar que “fomos tão felizes”. Falamos, e reprimimos o orgulho tonto por agora sermos nós ali, num lugar que, temos a certeza, é cobiçado por metade do universo.
E chega o dia, o malfadado dia, em que sentimos que o outro cede, que sorri demasiado, que, afinal, não quer só a nossa companhia. E fingimos novamente. Fazemos de conta que não nos afecta, que não queremos dar bofetadas na cara alheia, que, “de qualquer das formas, ainda que isto não foi mais avante”, e, o mais do que lógico, “eu sempre soube que isto não era para ser nada sério”.
Sentimos ciúme, Amuamos como crianças, sentadas à beira de uma caixa de areia num parque infantil. Tiraram-nos o escorrega, deixámos cair o chupa-chupa em cheio na dita areia, que depressa se agarrou, ao ponto de o tornar inconsumível.
E continuamos enciumados. E sozinhos, porque não vamos admitir que tudo não passa de uma crise de dor de cotovelo. Seguimos caminhos opostos, somente porque nunca teremos a coragem de assumir o quanto gostamos. Que gostamos, imagine-se, ao ponto de sentirmos ciúme.


3 comentários: