Tenho uma velha máxima, tão velha
quanto a minha maturidade permite, e que versa assim: quando se tem ciúme,
está na hora de virar costas, e fechar a tasca.
Ora, porque digo eu que quando
sentimos ciúme de alguém – ciúme, aquela picada no coração, qual efeito
montanha-russa, e que provoca instintos assassinos; não aquele sentimento
descabido de possessão – é sinal que estamos apanhadinhos. E estar apanhadinho
nunca é bom. Até porque, em boa verdade, já ninguém quer andar por aí
apanhadinho. Não é da moda, nem há tempo para gostar assim.
Por isso, podemos ir estando com
uma pessoa, e mentir a nós mesmos, aos amigos, e, por favor, ao objecto da
nossa paixão, a quem vamos, copiosamente, negar qualquer tipo de sentimento que
ultrapasse o mero físico.
Temos saudades de estar juntos?
Pois temos. Mas, não dizemos. Ficamos nervosos e ansiosos antes dos encontros
marcados? Claramente, só que, em boa verdade, quem precisa de saber? Andamos
bem-humorados e radiantes? Vê-se à légua, e a culpa…é do tempo, que está a
melhorar.
Vamos fingir que gostamos de
conchinhas, mimos e olhares melosos. Fingir, sim, porque é como que se não
gostássemos. Ninguém do grupo dos “maus”, dos durões, dos “só sexo” gosta
dessas coisas amorosas, e somente estúpidas.
Falamos da jeitosa da vizinha do
andar de baixo, com quem nos cruzámos uma ocasião à entrada do prédio. Falamos
do ex-namorado que teima em dar notícias e lembrar que “fomos tão felizes”.
Falamos, e reprimimos o orgulho tonto por agora sermos nós ali, num lugar que,
temos a certeza, é cobiçado por metade do universo.
E chega o dia, o malfadado dia,
em que sentimos que o outro cede, que sorri demasiado, que, afinal, não quer só
a nossa companhia. E fingimos novamente. Fazemos de conta que não nos afecta,
que não queremos dar bofetadas na cara alheia, que, “de qualquer das formas,
ainda que isto não foi mais avante”, e, o mais do que lógico, “eu sempre soube
que isto não era para ser nada sério”.
Sentimos ciúme, Amuamos como
crianças, sentadas à beira de uma caixa de areia num parque infantil.
Tiraram-nos o escorrega, deixámos cair o chupa-chupa em cheio na dita areia,
que depressa se agarrou, ao ponto de o tornar inconsumível.
E continuamos enciumados. E
sozinhos, porque não vamos admitir que tudo não passa de uma crise de dor de
cotovelo. Seguimos caminhos opostos, somente porque nunca teremos a coragem de
assumir o quanto gostamos. Que gostamos, imagine-se, ao ponto de sentirmos
ciúme.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarGrande Tânia... ;-)
ResponderEliminarObrigada Luís :D
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