quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Vá lá, agora a sério

Estou habituada a que as pessoas não me levem a sério.

Eu falo, entusiasmada, (às vezes cheia de teorias do arco-da-velha, e com inteiro uso da razão) e em troca recebo uma plateia, que me revira os olhos dramaticamente.

Aliás, eu própria sou uma descrente, e vai daí passo 45% do meu tempo a dizer “a sério?”. Por isso mesmo, porque não acredito também.

A questão real é, convençam-se, simplesmente esta:  podemos confiar?

Eu, que, dizem os entendidos, até sou crente em demasia às vezes, não me finto nessa conversinha. Nah, nada mesmo.

Agora, haveria alguém de me gritar “Ei, então não eras tu que dizias para acreditarmos uns nos outros? Grande mentirosa.”

Pois sou, – respondo calmamente a essa pergunta – e assim comprovo a minha teoria.

Mete-me espécie aquelas pessoas que falam mal de alguém, lhe chamam nomes feios, atiram a reputação dessa pessoa para a sarjeta, e… no final das contas, são grandes amigos, jantam fora de quando em vez para pôr a conversa em dia, ou publicam fotografias no Facebook, com frases carinhosas.

Quem são então estas pessoas para revirar os olhos à minha sinceridade? E às minhas francas teorias?
Pessoas, sejam honestas.

Quando não gostam, revirem os olhos, ou façam ar de nojo. É bom e faz bem à saúde.

Ser verdadeiro está em desuso, essa é que é essa. Os malandros amigos da mentira e da falsidade corromperam tudo e todos.

E por isso é tão difícil acreditar em alguém. Mesmo que seja um alguém especial.

É mais fácil espetar-lhes farpas com cores coloridas, nessa grande tourada que é a vida. Fazemo-lo por aquilo que consideramos autodefesa, ou em contrário acabaremos com um corno espetado no meio das costelas (ocorreu-me uma piada fácil com isto do corno, mas creio que é tão óbvia, que vou deixar a pairar no ar).

Pagam todos pela falsidade da maioria. Somos felizes assim, a afastar pessoas, boas e más, de forma indiscriminada. Estamos a todo o momento à espera de uma prova, plausível ou não, para nos agarramos e fazermo-nos donos de uma razão, maioritariamente inexistente.

Quando era criança, era muito destravada. Não sabia mentir.

Hoje, mais velha em idade, (note-se, “idade” e não “maturidade”) continuo a unir os lábios quando algo me deixa chateada, e a deixar estampar no rosto as minhas emoções, sem que o perceba.

Se já tentei mudar isso?

Não.

Não quero.

Recuso.

Assim como as minhas fantásticas teorias, que partilho com a minha plateia que revira os olhos dramaticamente, não quero perder os traços da minha honestidade. Aquela que nunca foi contaminada por um bando de pecaminosos seres, que hoje são e amanhã já não são.

Escrevi uma vez que ser alguém a tempo inteiro é muito melhor do que ter muitos alguéns dentro de nós. Cada vez acredito de forma mais pia nisso.

Vamos ser sinceros, para podermos acreditar nas boas intenções dos outros. Vamos atirar com verdades para que nos sejam devolvidas verdades. Vamos dizer palavrões quando estivermos chateados. Vamos falar com mel na voz quando estivermos apaixonados. Vamos ser humanos, e não uns robots desprovidos de emoção e sentimentos.

“A verdade dói.” “A mentira tem perna curta.” “Prefiro a dura realidade da verdade do que uma doce mentira”. Tantas frases, cuspidas aqui e além, em qualquer lado, sem serem, de facto, sentidas e realizas.
Raspem o “Made in Taiwan” das vossas vidas.

Se querem ser reconhecidos pelo bem, registem a vossa própria marca, sem contrafacção à mistura.

Com certeza que, um dia, as pessoas certas vos vão marcar com um selo verde de “marca de confiança”, e, quiçá”, “produto do ano”. 


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