quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Diário de um ressabiado

Passam dias, meses, anos.
Passam, ou, pelo menos, irão passar. É que se calhar só passaram umas horas, e estamos a insuflar tudo. Não sabemos ao certo o que pensar, e todos os pensamentos são, ainda que ao de leve, homicidas.

Passam dias, meses, anos. Séculos! Milénios, por Deus! 

Ou não. Talvez tenha passado menos de um minutos desde a última vez em que pensámos sobre o assunto corrosivo. É o tal assunto, o tal que nos tem trazido ressabiados. 

E pensámos, falámos com amigos. Pensamos mais um pouco. Passam dias, meses, anos. Não, que disparate! Passaram apenas 30 segundos, e voltamos a pensar. Na resposta, não há nada. Nem queremos já, em boa verdade. Neste ponto nós somos mais nós, e vamos mandar abaixo de Braga quem disser o contrário. Peito à bala! Estamos por tudo! Ai, agora? Agora não dá.

Anda o relógio, e passam mais dias, mais meses, mais anos. Assim parece, só que, sabemos bem, é mentira. Não se passa nada, em abono da verdade. C’um mil diabos! É que, literalmente, não se passa nada. E devia passar, porque assim íamos ficar menos agastados, íamos ter mais tópicos para juntar à lista que nos traz ressentidos. 

É nesta parte que começamos a citar frases. As frases, bonitas e com todo o sentido, só que não foram escritas por nós. Saramago destaca-se na lista: “Se tens um coração de ferro, bom proveito. (…).“E eu estou lá para escrever? Ou para fazer alguma coisa? Só me quero enrolar em posição fetal, e esperar que o mundo acabe”. Sabemos que é coisita para demorar, dado o número de falsos alarmes que há na História. Mas, nunca se sabe quando vai cair um meteorito. E o danado bem que podia cair na cabeça de alguém, e parti-la a meio, como um melão da Vilariça, maduro de mais. 

Maduro? Espera lá! Calma aí! É que passaram dias, meses e anos, e nada aconteceu. É fruta podre, é o mal encarnado, é… , olha, nem sei, mas é. E há-de ser.

É que passam dias, meses, anos, sempre a martelar no mesmo! Irra. Falamos com voz arrastada, rosnamos, ficamos de mau-humor.

E, para quê? 

“Olha, falar é fácil. Queria ver-te no meu lugar.”

Publicado originalmente em http://www.noticiasdonordeste.pt/2015/10/diario-de-um-ressabiado.html

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