Não sei se, de facto, começo a
ter idade para entrar na secção das encalhadas, ou se é só implicância.
Espero eu (dos refegos do meu
coração) que seja normal que as moças, aparentemente, em idade casadoira, como
eu, sejam constantemente bombardeadas com a pergunta, que vem, invariavelmente,
das avós e das tias provenientes da Idade da Pedra, e que é a seguinte: “Então,
e quando é que nos dás as amêndoas?” (aos mais novos, que estão habituados a
lembranças de casamento todas XPTO, e com utilidade prática, até, recordo que,
lá na Idade da Pedra, se davam amêndoas aos convidados).
Mas… mas… raios!
O que há de errado em não estar
casada? É uma falta social grave? E, com quem me casaria eu? Esse retalho da
estória não é relevante?
Sociedade estranha, em que temos que
juntar trapinhos logo mal possamos. Algo como “Olha! Apanhei um!”. Um Mundo de
pernas para o ar este, em que há quem tenha que lutar pelo direito de não
casar, enquanto outras tantas quase andam ao tabefe para que alguém lhes
coloque um anel no dedo, de preferência bonito e grosso, só para que as
“invejosas” possam vê-lo bem, ao longe.
Faz parte de ser mulher, isto de
olhar para as nuances, ao passo que esquecemos o essencial. Por exemplo, em
2016 é uma vitória e uma algazarra (sabe-se lá porquê) que hajam sites feitos
para mulheres, com posts a imitar cartas (que, penso eu, são algo como textos
de opinião super carregados de emoções, que nos fazem chorar quando as hormonas
andam aos pinchos) para todos os fins (“carta aos meus ex-namorados”, “carta
aos namorados das minhas BFF”, “carta ao meu futuro marido”, claro está) e
dicas de moda, mas muitas continuam a achar normal que um homem não se
desenrascar numa casa sozinho, que diga que nunca vai mudar fraldas, e que
ainda questione o tamanho da saia dela.
O feminismo invadiu a década,
certamente – e ainda bem, claro – só que da forma errada. Somos diferentes,
pois somos, temos corpos reais, temos período e, espantem-se, temos pêlos!
Temos sites só para nós, temos revistas só para nós, temos carros considerados
só para nós. Os homens também já têm maquilhagem só para eles, por isso nisso
perdemos terreno. Ainda assim, temos uma catrefada de coisas só para nós, gajas
emancipadas, que nem sabem a sorte que têm de o serem, e que não querem saber
do que está por conquistar, porque serve o facto de temos um ramalhete de
coisas só para nós, que reluzem, mas que
não são ouro. E o que queremos mais? Igualdade de direitos? O fim das barbáries
praticadas pelo Mundo contra as mulheres? Aparentemente, ainda é um feito
enorme que haja um endereço na internet para falar de dores menstruais. E isso
faz (?) toda a diferença
Não entendo. Se calhar é por
estas e por outras que nos servem maridos, para termos uma vida cheia.
Sou mais feminista do que isto.
Falta mexer em muitas porcelanas. Não quero um homem que me proteja dos males
do Universo, porque no Mundo em que idealizo, estamos, finalmente, em pé de
igualdade, e todos os machos foram educados para respeitar as fêmeas. Então,
não quero precisar de protecção, e quero poder fazer o que bem entender, sem
que me atirem “és mulher”, como se fosse um handicap. Não quero um homem que me
ponha debaixo do braço. Quero um homem que me dê a mão, e que caminhe ao meu
lado.
Quando o encontrar, provavelmente
nem assim vou dar amêndoas a quem quer que seja, porque casar é caro, e, já não
tivesse eu que me preocupar com o facto de ser mulher, ainda tenho que me
lembrar que a crise económica não passou, e que, como contribuintes, não temos
género. Por isso, ninguém se vai oferecer para pagar os meus impostos por mim,
em sinal de cortesia.
Publicado originalmente em: http://www.noticiasdonordeste.pt/
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