Há uns dias, em mais um jogo das
redes sociais, fui informada de que era uma “contadora de estrelas cadentes”
profissional, responsável por me certificar que os sonhos dos outros se tornam
reais. Sou só eu que acho isto fofo?
Se a ideia chega a Hollywood,
vamos ter mais um filme de chorar baba e ranho e com muitas nomeações da
Academia. Até estou a imaginar o final – ele morre porque vê uma estrela
cadente e deseja que ela tenha uma vida longa e feliz, em detrimento da própria
felicidade (claro que antes já tinha havido uma crise das estrelas, que tinham
deixado de cair com a mesma frequência, e por isso tornam-se tão raras que era
necessário ter contadores profissionais para não perder nenhuma. Eu sei, estou
a deixar fugir uma carreira de argumentista).
Bom, claro que na vida real tal
não seria possível. Não acho que a queda de estrelas esteja em causa. Não sei
quantas caem por dia, mas penso que ainda haja um rácio saudável. Já quanto à
realização de desejos, prefiro manter o misticismo/romantismo/fofismo e
acreditar que, se não os tornam verdadeiros, pelo menos dão um empurrãozinho.
Apenas não acredito que seria possível alguém “apanhar” estrelas para outra
pessoa, porque o ser humano é tão egoísta que não ia pedir desejos para outro.
Ora, poderiam dizem que este
trabalho, por ser à noite, seria muito bem pago, e, por isso, qualquer um
desempenharia bem este papel. Eu acho que não. Basta pensar nas vezes em que
desejamos coisas completamente alheias ao trabalho durante as horas de
expediente. E se um destes desejos coincidisse com a queda de uma estrela, lá
se ia a oportunidade de um cliente. Ou se havia uma troca de desejos? Havia
depois pessoas ricas que só queriam super-poderes, e super-heróis que só
queriam era uma casa com piscina e um Ferrari na garagem.
Se pedir para nós é difícil, nem
quero pensar como seria gerir uma empresa deste calibre. Desde a definição dos
requisitos para pedir desejos até à tabela de preços. Claro que pedir desejos
por encomenda tinha de ter requisitos, ou então alguém poderia desejar o fim
precoce do petróleo ou uma explosão no sistema solar, e era uma grande chatice.
E alguns desejos seriam impagáveis. Por isso ia haver um aumento dos
empréstimos no banco e a venda de objectos em ouros.
Mas estou a fugir ao lado
romântico da questão. Quando, debaixo de um céu de Verão, vemos uma estrela
cadente, brilhante como um farol, não pensamos em dinheiros, em viagens ou em
casas com piscina. Pensamos, sim, naquele amor que não é correspondido ou que
queríamos manter para sempre. As estrelas são românticas, e visto ao perto, com
telescópios especiais, têm forma de coração. As estrelas morrem e caem para
guardar segredos eternos de amantes. Não aguentam a vida solitária que levam,
lá em cima, talvez, o que pode
ser outra causa de colapso.
E, o melhor de tudo, é que o céu
é de todos. Todos podem contar estrelas e pedir desejos, sem que seja preciso
contadores profissionais de estrelas cadentes para intercederem por nós. Por
isso, se já tentou de tudo, não custa pegar num banquinho e em alguma
paciência, e tentar a sorte, a contemplar o firmamento.
Publicado originalmente in Notícias do Nordeste
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