quinta-feira, 18 de junho de 2015

A contar estrelas


Há uns dias, em mais um jogo das redes sociais, fui informada de que era uma “contadora de estrelas cadentes” profissional, responsável por me certificar que os sonhos dos outros se tornam reais. Sou só eu que acho isto fofo?
Se a ideia chega a Hollywood, vamos ter mais um filme de chorar baba e ranho e com muitas nomeações da Academia. Até estou a imaginar o final – ele morre porque vê uma estrela cadente e deseja que ela tenha uma vida longa e feliz, em detrimento da própria felicidade (claro que antes já tinha havido uma crise das estrelas, que tinham deixado de cair com a mesma frequência, e por isso tornam-se tão raras que era necessário ter contadores profissionais para não perder nenhuma. Eu sei, estou a deixar fugir uma carreira de argumentista).
Bom, claro que na vida real tal não seria possível. Não acho que a queda de estrelas esteja em causa. Não sei quantas caem por dia, mas penso que ainda haja um rácio saudável. Já quanto à realização de desejos, prefiro manter o misticismo/romantismo/fofismo e acreditar que, se não os tornam verdadeiros, pelo menos dão um empurrãozinho. Apenas não acredito que seria possível alguém “apanhar” estrelas para outra pessoa, porque o ser humano é tão egoísta que não ia pedir desejos para outro.
Ora, poderiam dizem que este trabalho, por ser à noite, seria muito bem pago, e, por isso, qualquer um desempenharia bem este papel. Eu acho que não. Basta pensar nas vezes em que desejamos coisas completamente alheias ao trabalho durante as horas de expediente. E se um destes desejos coincidisse com a queda de uma estrela, lá se ia a oportunidade de um cliente. Ou se havia uma troca de desejos? Havia depois pessoas ricas que só queriam super-poderes, e super-heróis que só queriam era uma casa com piscina e um Ferrari na garagem.
Se pedir para nós é difícil, nem quero pensar como seria gerir uma empresa deste calibre. Desde a definição dos requisitos para pedir desejos até à tabela de preços. Claro que pedir desejos por encomenda tinha de ter requisitos, ou então alguém poderia desejar o fim precoce do petróleo ou uma explosão no sistema solar, e era uma grande chatice. E alguns desejos seriam impagáveis. Por isso ia haver um aumento dos empréstimos no banco e a venda de objectos em ouros.
Mas estou a fugir ao lado romântico da questão. Quando, debaixo de um céu de Verão, vemos uma estrela cadente, brilhante como um farol, não pensamos em dinheiros, em viagens ou em casas com piscina. Pensamos, sim, naquele amor que não é correspondido ou que queríamos manter para sempre. As estrelas são românticas, e visto ao perto, com telescópios especiais, têm forma de coração. As estrelas morrem e caem para guardar segredos eternos de amantes. Não aguentam a vida solitária que levam, lá em cima, talvez, o que pode ser outra causa de colapso.
E, o melhor de tudo, é que o céu é de todos. Todos podem contar estrelas e pedir desejos, sem que seja preciso contadores profissionais de estrelas cadentes para intercederem por nós. Por isso, se já tentou de tudo, não custa pegar num banquinho e em alguma paciência, e tentar a sorte, a contemplar o firmamento.

Publicado originalmente in Notícias do Nordeste



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