quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A experiência

Tal como acontece a todos os jovens estudantes, com o aproximar do final do curso académico, os pensamentos sobre o que me espera no mundo de trabalho começam a assolar-me. Pesquisei já em muito sites, daqueles em que figuram inúmeras ofertas de emprego. E a cada novo anúncio que lia, a sensação de estar a cair de um precipício ia aumentando. A palavra “experiência” aparecia copiosamente em todos os dignos de registo, e, estranhamente, com o número 2 ou 5 à frente. Completando o puzzle ler-se-ia algo semelhante a “experiência mínima de 2 anos de trabalho efectivo”. Certo é que é difícil conseguir experiência quando as oportunidades parecem estar num pedestal. Alguns conseguem-na, outro não, dependendo da arte, do engelho e da persistência com que se encara o assunto. Há alguns dias li uma frase que dizia, mais ou menos, que cada “não” ouvido é mais um passo para se alcançar um “sim”. E realmente, exceptuando as desventuras de milhares, funciona assim. Essa malvada palavra – experiência – não me saiu da cabeça. E num estilo algo freudiano, cheguei ao impensável – ela invadiu os meus sonhos!
 Ali estava eu, num posto dos CTT, com um molho de envelopes, recheados com o meu anoréctico currículo, onde se lia, em letras garrafais, “devolvido por falta de experiência”. De repente, estava numa sala branca, num estilo decorativo semelhante a um consultório de dentista, que identifiquei através de uma plaquinha (sim, os meus sonhos têm legendas), como sendo o departamento de Recursos Humanos de uma qualquer cadeia de hipermercados nacional. Esperei pela minha vez, por entre uma enorme fila, até ser chamada para ir à faca, que é como quem diz, à entrevista de emprego. Enfim, convocaram o meu nome. Avancei decidida. Era a hora. Atrás da porta estava uma senhora – a senhora do departamento dos Recursos Humanos – com um nariz pontiagudo e uns óculos minúsculos e redondos a pairar sobre ele. Apenas proferiu uma pergunta: “A menina tem experiência?”. Empalideci e a boca secou. “Aaaa… bem…sim…”. Podia sentir o sangue cristalizar nas veias. “Costumo utilizar as caixas automáticas sempre que venho às compras”, rematei.
Mas não foi suficiente. Quem ficou com o lugar da Caixa 9 foi a Cátia Vanessa, que trabalhou no supermercado do bairro quando deixou os estudos, e que declarou ainda que tinha nascido para aquilo. Ali estava, uma comprovada experiência! Depois disso, acordei atordoada. Na minha cabeça, flutuava a imagem da Cátia Vanessa a passar uma embalagem de leite e um quilo de maçãs pela caixa registadora, enquanto eu saía pela porta dos fundos, ao som dos “bip, bip, bip” compassados. Não posso negar que com a experiência vem a sabedoria. Os dizeres populares têm sempre razão. Mas, é incontestável que actualmente é necessário ter sabedoria para obter experiência. No final das contas, experiência temos todos. Pode é não ser na área laboral a que desejamos pertencer. Alguns são versados na cozinha, outros na condução. Outros, ainda, são exímios a descortinar a vida dos outros. Ainda assim, para os jovens que procuram emprego (muitas vez, o primeiro) não deveria contar a vontade de aprender, em vez da experiência? Não somos nós, jovens, que vamos ser a fonte de produtividade do país? Muitos apenas esperam uma oportunidade para serem abarcados pelo mundo do trabalho. Para provar que querem ganhar experiência e que estão à altura do desafio. Para já, sem experiência no ramo que quero seguir, procuro explorar as experiências que a vida me dá (com um empurrãozinho, que nada cai do céu!). E, um dia, escreverei um livro com a minha experiência!

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