quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O consultório do amor

Quem me conhece sabe que odeio hospitais. Hospitais, ou coisas similares. Vá lá, tudo relacionado com a saúde me deixa doente. E além disso é o sangue, as agulhas e até os kits de primeiros socorros. Resumindo, para me arrastar até uma unidade hospitalar, é sinal que estou já a ver o São Pedro entre nuvens, ou um túnel estranhamente iluminado.
Contudo, e porque dizem que a idade nos torna mais maduros, resolvi começar a zelar pelo meu bem-estar físico e psicológico (e daí, talvez a minha mãe tenha algo a ver com este assunto).
Após 8 meses de longa espera, - sim, isso mesmo, SNS – tive direito a 20 minutos de consulta só para mim!
Entre as inspirações e expirações, algumas perguntas básicas e uns formulários para preencher no computador (que estava sempre a encravar), fui percebendo que, afinal, não estava a ter só uma consulta médica de rotina. Melhor do que isso. Tudo aquilo era um pack exclusivo – por apenas uma consulta receba também, totalmente grátis, conselhos amorosos.
Saí um pouco mais esclarecida daquela sessão. Não em termos médicos. Ou, posto nesses termos, saí especialista em cardiologia. Fiquei assim a saber, por quem já viveu mais do que eu, que namorar não é, de todo, forma de conhecer alguém. Devemos conhecer os homens como amigos e dar-lhes uns “apertões” (só para ver como reagem). É como diz o povo: apalpar bem a fruta na mercearia, não vá o diabo tecê-las e ela vir podre.
É que, aprendi nesta pequena palestra sentimental, os homens como namorados ocultam coisas. Se é namorado, já não vai ser ele mesmo. E depois de casados…Ai aí é que são elas! E dá para o torto. Portanto, sejamos amigos. Se houver a tal “chama”, num mês estamos aptas para casar.
Ora, isto até tem a sua lógica. Os nossos amigos não têm que nos agradar, nem pagar a conta, nem reparar que cortamos o cabelo, nem dizer que estamos bonitas com aquele vestido. Isto porque são homens, certo? Homens sem segundas intenções nas mulheres, normalmente, não prestam atenção a tamanhos detalhes. Mas, se houver um amigo-homem que aja de forma diferente, e faça tocar sininhos na nossa cabeça, pode perfeitamente ser um noivo-homem, ou, quiçá, homem-homem.
Outra questão focada pela minha médica-conselheira, muito pertinente, é o amor à primeira vista. Ela acredita que existe.
Já me apaixonei à primeira vista. Só que nunca por homens. Vestidos, sapatos, e outros que tal, são capazes de me arrebatar o coração. Só que muitos, de perto, desiludem. E tenho de fazer o meu luto amoroso, e passar para a montra seguinte.
Com os homens não é o mesmo? Olhamos, e ficamos pelo beicinho. Vemos mais de perto, e os defeitos aparecem. Às vezes são tantos, que parecem brotar como água de uma fonte. Aqui fazemos o tal recolhimento emocional, e passamos à fonte seguinte.
Não cheguei a conclusões irrevogáveis sobre o amor ou os homens. Isso não. Mas pelo menos trouxe papéis com toneladas de análises para fazer. O que, convenhamos, nos dias que correm, é melhor do que um homem-homem ou um amor à primeira vista.


 Publicado in Jornal Terra Quente
(Coluna quinzenal "Más línguas, boas conversas")



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