segunda-feira, 14 de outubro de 2013

E o que Deus uniu…o Homem facilmente separa

Numa análise através dos tempos, desde os afonsinhos, é fácil encontrar histórias de amor eterno. De duas pessoas que se casaram muito novas, virgens (?), sem terem experimentado grandes namoros anteriormente, e cuja relação gerou muitos filhos e durou, tal como prometeram no altar, até que a morte os separou.
Segundo as estatísticas, na década de 60, em Portugal, em cada 100 casais que assinavam os papéis para se tornarem um só, apenas 1,1 (deduzo que alguns se tenham arrependido, ou não tenham formalizado o pedido, daí 1,1) assinavam mais papéis para retirarem tudo que tinham dito e prometido. Na década seguinte, de 70, o número baixou ainda mais, e apenas 0,6 casamentos tinham um fim. Repare-se, pouco mais de meio casamento só! Já no passado ano, 2012, em cada 100 casais de pombinhos a arrulhar, que até iam à Exponoivos, 73,7 chegaram à conclusão que afinal eram gaviões solitários.

Ora, isto é preocupante. Eu, que não namoro nem nunca me casei, fico um pouco assustada. Primeiro, um casamento é caríssimo. Ele é o vestido, o copo-d’água, o fotógrafo, a lua-de-mel… Enfim, como disse, um balúrdio! E pensar que há pessoas que o fazem de ânimo leve. No dia em que dizem oficialmente o “sim” já estão a pensar em espetar com um “não” na cara do suposto amor para a vida toda, mal tenham oportunidade. Só me ocorre aquela música dos The Black Eyed Peas, “Where is the love?”

Gosto de ser realista, quando a vida assim mo permite. E em boa verdade todos sabemos que muitas pessoas, principalmente as mulheres, não se divorciavam por pressões sociais e familiares. Estava institucionalizado que o casamento era para a vida toda, não havia segundas hipóteses! Muitas vezes, com alguns jogos de conveniência. Conheço até um caso verídico de um senhor, que com o nervosismo de pedir a mão do seu amor ao respectivo pai, se enrolou todo e equivocou o futuro sogro. Assim, o dito sogro percebeu que lhe tinha pedido a sua outra filha em casamento. E pensam que houve cá voltas atrás? Nah nah. Casou com a irmã, mesmo amando aquela que veio a ser sua cunhada.

O que é certo é que as pessoas acabavam por ficar juntas, principalmente no mal. Mesmo que houvesse filhos que eram a cara chapada do vizinho do lado, casos extraconjugais, violência doméstica ou simplesmente falta de amor ou de entendimento.

Em Portugal o divórcio é permitido desde 1910, ano da Implantação da República (data sem importância, que já nem feriado é!), mas corria o ano de 1940 quando o Vaticano assinou uma tal de Concordata que deixou de permitir os divórcios a todos que se casassem canonicamente. E só a partir de 1975 voltou a ser possível (talvez daí venham os magros números que referi há pouco). E agora, descobri horrorizada, nessa grande fonte de saber, que é o Google, que é possível divorciar-se num espaço temporal de 4 a 20 minutos, no Divórcio na Hora. Imagine-se que enquanto verifica o seu email e consulta a meteorologia, pode estar, em simultâneo, a divorcia-se.

Tem que haver aqui um truque qualquer, algo que nos está a escapar. Tem que haver um método para saber: a) se estamos a casar com a pessoa certa, e vamos ser felizes para sempre; b) se não vale a pena casar porque nos vamos divorciar. Podia ainda acrescentar uma opção c), que aposto que era assim que se fazia antigamente. Então, cá vai: c) aprender a dar, discretamente, umas “facadinhas” no casamento, só para saber se afinal estamos bem casados, ou aquilo está pior do que peixe podre.

Isto dito assim parece horrível. Mas, pensemos nisto, pode funcionar como pimenta nos relacionamentos. É como ir experimentar sushi e descobrir que aquilo não é para nós. E passamos a valorizar de uma forma suprema uma asinha de frango no churrasco. Ou vice-versa, porque nem toda a gente gosta de frango e nem toda a gente detesta sushi.

No meu caso, vou continuar a acreditar nos amores eternos e avassaladores, daqueles que vêm sem esperar e que só podem acabar num alpendre, rodeados de netos, ao pôr-do-sol. Contudo, folgo em saber que há mais opções! Até porque nunca gostei de gastar rios de dinheiro em maus investimentos.

E já que proibiram que nas cerimónias de casamentos religiosos se pergunte se alguém tem algo contra o acontecimento (o que é uma chatice para os amantes, que perderam o seu momento heróico), fiquem com a firme certeza de que mesmo depois de atirada a água benta e de trocadas as alianças, é possível, rapidinho e sem maçadas separar o que Deus ali uniu, normalmente com comunhão de bens adquiridos.

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