terça-feira, 2 de setembro de 2014

A culpa é do cosmos. Não! Da genética.

Já muito falei sobre o azar.
Essa Tânia, a que falava de azar, faz parte do passado. Isto porque depois de entrevistar o Padre Fontes me iluminei o suficiente para me mentalizar que isso das mezinhas e do mau-olhado são para outros, que não eu.
Agora, esta nova Tânia que vos escreve, sabe que as causas do improvável me bater à porta não estão em sapos e bruxas.
A causa é cósmica.
Sim, cósmica. Vinda lá do espaço, estão a ver?
Nah, continua a parecer rebuscado.
Bom, vamos aperfeiçoar e dizer que é genético. Tenho o gene da maleficência. Não que eu seja má. O gene é que é, e funciona como um íman para o lado negro de tudo.
Isto funciona melhor à base do exemplo, para que se entenda a minha dor.
Imagine-se que o meu telemóvel, com menos de dois anos, estava a dar-me muitos problemas. Como não tenho pachorra para telemóveis com síndromes de adolescente, que só fazem o que querem e quando querem, resolvi que estava na hora de comprar um novo.
Chegada à loja, e a seguir aos diálogos da praxe, escolhi um, que ainda por cima estava em mega-desconto. “Que boa compra fez, que pechincha!”, exclama a senhora da loja.
E eu saí de lá convicta disso, e feliz por ter um telemóvel novo, dual SIM e, pasmem-se, cor-de-laranja. Um sonho, portanto.
Duas horas mais tarde, o equipamento novo apresentava um pequeno traço preto no ecrã. De repente, já eram três, de cabo a rabo. E não posso afirmar que nada mais suceda.
Para piorar, a troca será um caso bicudo.
E é assim. Nada poderia ser fácil para mim. Nem mesmo a compra de um telemóvel. Se fosse outra pessoa qualquer do mundo, ele funcionaria com normalidade. Só que não. É meu. Por isso, havia de ser o que vinha com problemas.
Sinto-me uma Jane a participar no Survivor, só com uma faca de barrar manteiga no bolso de uns calções esfarrapados.
O melhor é ignorar. Até porque já estou mentalizada de tudo se me irá adensar num determinado momento. É como se andasse sempre com aqueles obstáculos do atletismo atrás ou como se de manhã atasse a sapatilha direita à esquerda. 
Poderia dizer-lhos que assim é que a vida tem piada – tudo difícil. E, enquanto isso, estofava o peito.
Mas não.
Culpo a genética por tão vil fado. Sigo, cabisbaixa, à espera que algum geneticista se debruce sobre o meu problema, e crie algum transgénico capaz de me tornar numa super-sortuda. Ou, pelo menos, em alguém normal.
E, enquanto vos escrevo estas pesadas linhas e verifico se o meu telemóvel não criou mais nenhuma risquinha insolente, sei que, por estas e por outras, nunca ganharei o Euromilhões, nem sequer terei o almoço feito quando chegar a casa. 



Más línguas, boas conversa
In Jornal Terra Quente

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